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Desabrigo: Rui Chafes na Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva
DATA
16 Dez 2022
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AUTOR
Tiago Leonardo
Desabrigo, é o título da exposição de Rui Chafes na Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva em parceria com a Fundação Carmona e Costa e colaboração com a Galeria Filomena Soares. É também o título de uma série de três esculturas aqui apresentadas, duas delas pela primeira vez, que constituem o primeiro de dois momentos desta exposição.

Desabrigo, é o título da exposição de Rui Chafes na Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva em parceria com a Fundação Carmona e Costa e colaboração com a Galeria Filomena Soares. É também o título de uma série de três esculturas aqui apresentadas, duas delas pela primeira vez, que constituem o primeiro de dois momentos desta exposição.

Estas três esculturas, como sempre, forjadas a ferro, estão suspensas lado a lado na Galeria grande do museu provocando um “paradoxo de flutuação de um peso que parece imenso”[1],  remetem-nos para casulos, de onde, através de uma abertura, vislumbramos os espaços negativos, que por vezes não nos são dados a ver. Estes estão ocupados por chamas, por fogo; este que torna possível o caráter quase ritual da forja, e, em toda a sua violência, permite criar objetos leves. Para Chafes o ferro e o fogo não são matérias, mas sim forças.

Andamos em volta destas cápsulas numa sala onde não há mais portas, mas sabemos que há mais para ver. Somos obrigados a invadir o restante espaço do museu, sem percurso definido, em busca da escultura que nos falta visitar. Esta foi especialmente realizada para a ocasião e divide duas salas do edifício pombalino, impede a passagem, para ver ambos os lados teremos de circular em volta do espaço de novo, criando o nosso próprio circuito.

Isto não sou eu, é o nome desta escultura que ilustra tão veementemente- pelo menos através do título -a separação entre a arte e a vida, em que Chafes sempre acreditou. É uma escultura diferente das anteriores; menos orgânica, com uma notável economia de meios, de aproximação ao minimal. Parece ir de encontro a reflexões acerca do espaço e do tempo enquanto característica comum à obra e ao espectador, conduzindo o último a uma nova perceção do espaço onde a obra se insere. Mas conhecer a obra de Rui Chafes é saber que a escultura não foi feita para o lugar, mas está no lugar onde precisamente aparece. Não se trata da ocupação do espaço, mas da busca do vazio como “único destino possível da arte”[2].

Numa entrevista com mais de 20 anos, realizada três semanas depois de Rui Chafes ter vencido o prémio União Latina, António Guerreiro chama à atenção para a paradoxalidade dos objetos produzidos pelo artista que sempre defendeu que construía “objetos de ferro sem acreditar na existência de objectos, sem acreditar em matérias”[3]. Pergunta-lhe se o pensamento da arte que defende não se adaptaria mais à poesia e não tanto à escultura. Chafes responde, com mestria, que cada objeto é apenas uma possibilidade, uma demonstração quase arquitetónica. No entanto esse jogo de contrários é uma constante, e é nessa tensão que este objeto ocupa “um vácuo espantoso que é necessário preencher”[4], já encerrado inicialmente pela atividade a que compete encerrar vazios: a arquitetura.

A exposição pode ser visitada até 15 de janeiro de 2023.

 

 

 

 

[1] Sardo, D. (2011). O silêncio da noite é ensurdecedor. Em D. Sardo, A visão em Apneia.   Lisboa: Babel.

[2] Folha de sala da exposição

[3] Chafes, R. (2006). O silêncio de… Lisboa: Assírio e Alvim

[4] Ibidem

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