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Quorum Ballet: Galili e Cardoso
DATA
02 Nov 2022
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AUTOR
Jini Afonso
O Quorum Ballet, companhia de dança fundada por Daniel Cardoso, apresentou o programa de dança Galili & Cardoso, nos dias 14,15 e 16 de Outubro, no Cineteatro D. João V, na Amadora, constituído por duas partes: a primeira parte – Punch n’ Peck – uma criação do coreógrafo israelita Itzik Galili, outrora membro das companhias de dança Bat Sheva e Bat Dor e que, em 1991, fundou a sua própria companha, a NND/Galili Dance, em Groningen, na Holanda, e a segunda parte – 30000 Vidas | Aristides – uma coreografia de Daniel Cardoso, Coreógrafo Residente e Director Artístico da companhia.

O Quorum Ballet, companhia de dança fundada por Daniel Cardoso, apresentou o programa de dança Galili & Cardoso, nos dias 14,15 e 16 de Outubro, no Cineteatro D. João V, na Amadora, constituído por duas partes: a primeira parte – Punch n’ Peck – uma criação do coreógrafo israelita Itzik Galili, outrora membro das companhias de dança Bat Sheva e Bat Dor e que, em 1991, fundou a sua própria companha, a  NND/Galili Dance, em Groningen, na Holanda, e a segunda parte – 30000 Vidas | Aristides – uma coreografia de Daniel Cardoso, Coreógrafo Residente e Director Artístico da companhia.

Punch n’ Peck é uma versão que pertence à composição Me (2004) de Galili e que reune oito bailarinos em palco. Trata das relações humanas e de todo o tipo de sentimentos e emoções envolvidos nelas. Os bailarinos entram em cena ligeiros e alegres, ao som de três máquinas de escrever, e lançam-se numa troca colectiva onde a rapidez e a leveza evocam uma energia jovial, num jogo de corpos em diversão.  À medida que o som monocórdico das teclas se vai impondo, outras emoções apoderam-se do palco. Uma subtil claustrofobia vai-se instalando na repetição, agora também dos gestos, e a leveza começa a interrogar-nos, trazendo-nos para o sentimento de perda e de recusa. O dueto interpretado por Beatriz Graterol e Upock Qaucavan, que abre e fecha este espectáculo, deixa-nos repletos de dúvidas interiores, de alguma insegurança que tenhamos um dia experimentado na experiência da proximidade. O bailarino deita a cabeça no colo da bailarina que, ambivalente, o aceita para depois o recusar. A insistência dos movimentos impõe-se, de ambas as partes, num momento comum de frustração. Afinal, em que consiste a experiência da proximidade? A cadência desta coreografia, acompanhada pela composição musical do Dutch Percussion Group Percossa e de Still Movement with Hymn de Aaron Jay Jernis, resultou em momentos de grande ampliação dos movimentos, em que os oito bailarinos preenchendo o espaço cénico pareciam um só, intercalados com outros, em que cada bailarino se afirmava no seu gesto próprio, conseguindo mostrar a sua mestria física e interpretativa. Até porque as relações humanas se compõem de identidades com formas de expressão e necessidades diferentes.

Na 2a parte do espectáculo, assistimos à criação de Daniel Cardoso 30000 Lives | Aristides, uma homenagem a Aristides de Sousa Mendes (Cônsul de Portugal em Bordéus no ano da invasão nazi, durante a Segunda Guerra Mundial) que concedeu, em cinco dias, cerca de 30000 vistos para Portugal, a refugiados que tentavam fugir de França.

Agora, os bailarinos apresentam-se no palco em movimentos sincopados, todos voltados na mesma direcção, e os seus corpos são, repetidamente, puxados para trás ou lançados no sentido da luz por uma força invisível, enquanto caem folhas de papel, a céu aberto, que se acumulam debaixo dos seus pés. E é assim que cada um dança, sob essa condição de instabilidade. Por vezes, alguém amontoa pilhas de papel, maços e maços, evocando toda a forma de burocracia que entope e limita os movimentos. Há uma constante pressão no ar, os corpos parecem carregar um peso e uma gravidade de que procuram libertar-se. Há iniciativas isoladas de escapar à rotina dos dias, mas sempre intersectadas por uma ordem qualquer, uma geografia imposta a todos. O grupo de bailarinos em fato completo, cinzento, de aparência uniforme, tenta, de forma incessante, libertar os gestos contidos. A coreografia, elaborada a partir da tensão, mostra, compreendido nela, um forte prenúncio de liberdade.

Este espectáculo é apoiado pelo Município da Amadora.

 

Nota: Jini Afonso não escreve ao abrigo do AO90.

 

Ficha Artística – 1a parte – Punch n’Peck:

Coreografia: Itzik Galili

Montagem da peça a Assistência Artística: Elisabeth Gibiat

Ensaiador: Rui Reis Lopes

Bailarinos: Beatriz Gratenol, Fernando Queiroz, Inês Godinho, John Hackett, Margarida Carvalho, Mariana Matos, Pedro Alves e Upock Qauqavan (14 e 16 de Outubro dueto interpretado por Inês Godinho e Pedro Alves, dia 15 de Outubro dueto interpretado por Beatriz Graterol e Upock Qauqavan)

Desenho de luz e Figurinos: ItzikL

Música: Dutch Percussion Group Percossa  – 1a parte da composição Me, num apontamento musical composto é tocado ao som de três máquinas de escrever e Aaron Jay Kernis – Still Movement Roth Hymn – II Hymn, SAN Francisco Symphony Orchestra/Neale

Equipa Técnica: David Vaquinhas e Marco Dias

Duração : 26 min

Público-alvo: a partir dos 6 anos

 

Ficha Artística – 2a parte  – 30000 Lives | Aristides:

Coreografia, Desenho de Luz Figurinos e Cenografia: Daniel Cardoso

Assistente de Direcção Artística e Mestre de Ballet: Rui Reis Lopes

Bailarinos: Beatriz Gratenol, Hahyun Kin, Inês Godinho, John Hackett, Margarida Carvalho, Mariana Matos, Pedro Alves e Upock Qauqavan

Música: Frank Bretschneider, Kronos Quartet, Max Richter e Ólafur Arnalds

Equipa Técnica: David Vaquinhas e Marco Dias

Duração : 50 min

Público-alvo: a partir dos 6 anos

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