article
Colecionismo público e privado de arte contemporânea – A coleção de arte contemporânea da Fundação PLMJ
DATA
16 Dez 2019
PARTILHAR
AUTOR
Ricardo Emanuel Correia
Os mercados de arte em Portugal, em especial o de arte contemporânea, atravessam uma fase desafiante, sendo assim um momento bem oportuno para a conferência da Fundação PLMJ, Colecionismo público e privado de arte contemporânea e apresentação da sua coleção, na nova sede,  decorrida no…

Os mercados de arte em Portugal, em especial o de arte contemporânea, atravessam uma fase desafiante, sendo assim um momento bem oportuno para a conferência da Fundação PLMJ, Colecionismo público e privado de arte contemporânea e apresentação da sua coleção, na nova sede,  decorrida no dia 5 de dezembro. A conferência contou com a performance da bailarina Nina Botkay, que cativou a atenção de toda audiência, bem como com a apresentação da obra Convívio Glacé da artista Mariana Gomes, distinguida em 2011 com a menção honrosa do prémio Fidelidade Mundial – Jovens Pintores.

A Coleção da Fundação PLMJ conta com mais 1300 obras de arte apresentadas em mais de 50 exposições. Brevemente começará o seu programa de coleção itinerante, continuando o seu intuito de promoção da cultura portuguesa e criação artística a nível nacional e internacional. Fundada em 2001 tem sido reconhecido o seu mérito, como ilustram as distinções em 2017 e 2018 para os Corporate Art Awards.

Os acessos à arte e à cultura devem ser melhorados, como mencionou a Ministra da Cultura na sessão inaugural. No entanto, para além de fortalecer relações com instituições privadas e públicas, falta reforçar as relações intersectoriais, tema relegado para segundo plano. Há setores que beneficiam da cultura, tais como o turismo, a restauração, que usam a imagem cultural da marca Portugal. Se por um lado o turismo cresceu 11% nos últimos dois anos, as visitas culturais a museus caíram 12% em Portugal, segundo notícia do El País. O que explica tão desanimador panorama cultural em Portugal? Porque é o turismo valorizado como parente rico e a cultura permanece parente pobre, apesar do seu contributo essencial para a oferta turística em Portugal e para a identidade portuguesa?

É neste panorama de quase seca cultural (apesar de a cultura portuguesa estar viva), que surgem alguns oásis de empresas que, com as suas coleções, promovem, divulgam e alimentam os mercados da arte contemporânea em Portugal (e também os seus principais intervenientes, em especial artistas e galerias de arte). Neste contexto, surge a Fundação PLMJ com o lema “uma sociedade de advogados como espaço de cultura”, entre muitas outras como a Fundação Calouste Gulbenkian ou a Fundação EDP. Numa conferência sui generis (no bom sentido do conceito), abrangente e abordando os principais desafios do colecionismo, o convite de 1o oradores com diferentes papéis nos mercados de arte permitiu claramente alcançar o objetivo. Moderada pela jornalista Maria João Costa, a conferência contou com um painel de oradores bastante representativo como os artistas Ângela Ferreira e Fernão Cruz, os curadores João Silvério e Adelaide Ginga, a historiadora de arte Cristina Tavares, o galerista Pedro Oliveira, o presidente da leiloeira VERITAS Igor Olho-Azul, o colecionador António Cachola, bem como os intervenientes públicos como a vereadora da cultura da C.M. Lisboa, Catarina Vaz Pinto, e a diretora do MNAC, Museu Nacional de Arte Contemporânea, Emília Ferreira.

Segundo o galerista Pedro Oliveira, “o panorama nacional é desafiante, sendo que os mercados de arte contemporânea são historicamente frágeis e os colecionadores (sobretudo privados) são essenciais para suportar estes mercados”. O presidente da leiloeira Veritas, Igor Olho-Azul, traça um perfil de alterações de gostos e grande correção nos preços de várias tipologias, em especial antiguidades, sendo necessária a venda de muitas mais peças em leilões. Enquanto novos artistas, como Fernão Cruz, aparentam vender desde cedo obras de arte, verificando-se uma mudança de paradigma, Ângela Ferreira, artista da geração anterior, não vendia obras de arte nem com os seus 20 anos, nem com os seus 30 anos. Mudam-se os tempos, mas as vontades tardam mais em mudar, sendo que se há colecionismo privado ativo, já o colecionismo público (entenda-se de instituições públicas) deixa muito a desejar, com museus sem orçamentos ou com verbas insignificantes para aquisições de obras de arte. Quem vai a Paris sabe do Louvre, quem vai a Madrid sabe do Prado, será que os turistas (e os portugueses) sabem do MNAA (Museu Nacional de Arte Antiga) ou MNAC? É o que o número de visitas aos museus parece dizer que não. Que estratégia cultural para Portugal? Interessa perguntar a todos os intervenientes dos mercados de arte. E interessa perguntar também a nós, portugueses e empresas portuguesas se valorizamos a nossa cultura e arte.

Parafraseando a artista plástica Ângela Ferreira, para além da educação de públicos para a cultura, a educação corporativa e o exemplo da Fundação PLMJ é fundamental para mais empresas apoiarem a cultura, arte, artistas e criarem coleções que dinamizem os mercados de arte contemporânea. Faltam mais oásis para atravessar este deserto, mas estamos no bom caminho a nível privado. A nível público falta uma estratégia cultural e começar por quantificar o valor dos mercados de arte em Portugal. Comecemos pelo princípio. A sustentabilidade cultural deste setor exige-se, bem como o fim de uma seca que tende a continuar por inércia e inépcia.

P.S. Um bem-haja à Fundação PLMJ.

PUBLICIDADE
Anterior
article
São Bento abre as portas à Arte
16 Dez 2019
São Bento abre as portas à Arte
Por Manuela Synek
Próximo
article
Bacon en toutes lettres, as últimas duas décadas da sua obra, no Centre Georges Pompidou
17 Dez 2019
Bacon en toutes lettres, as últimas duas décadas da sua obra, no Centre Georges Pompidou
Por Francisco Correia