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Fórum de Andreia Garcia – a hipótese de um mercado que regressa ao seu lugar
DATA
24 Out 2022
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AUTOR
Joana Duarte
A hipótese de um mercado que regressa ao seu lugar ganha corpo através do FÓRUM implantado na praça do Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) em Guimarães. Trata-se de um pavilhão efémero que é palco de uma rica programação intitulada SEM ESPINHAS. Este duplo projeto foi concebido pela arquitetura e curadora Andreia Garcia, vencedora dos dois concursos, de Arte Pública e Curadoria, promovidos pelo Município de Guimarães, pelo CIAJG e pela Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho (EEAD).

A hipótese de um mercado que regressa ao seu lugar ganha corpo através do FÓRUM implantado na praça do Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) em Guimarães. Trata-se de um pavilhão efémero que é palco de uma rica programação intitulada SEM ESPINHAS. Este duplo projeto foi concebido pela arquitetura e curadora Andreia Garcia, vencedora dos dois concursos, de Arte Pública e Curadoria, promovidos pelo Município de Guimarães, pelo CIAJG e pela Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho (EEAD).

A sua última intervenção na cidade de Guimarães foi em 2012 no âmbito da capital europeia da cultura. Volta agora, passados dez anos, a intervir na sua cidade de origem, coincidindo com as celebrações de uma década pós capital europeia da cultura. Um momento de reencontro marcado por este FÓRUM que pontua a praça do CIAJG.

A memória do lugar, onde outrora existiu um mercado, e a relação de Andreia Garcia com este lugar, que desde muito nova acompanhava a sua mãe ou avó a esse mercado, foram os pontos de partida para dar resposta a ambos os desafios.

“Recordo-me de pôr as mãos em tudo, na comida, nas flores. Recordo-me de uma experiência sensorial associada àquele lugar. Experiência essa muito próxima da comida e de alguma forma muito próxima de uma ideia de colheita, a mão associada ao alimento que é levado para casa para ser preparado para ser ingerido.”

Esta experiência sensorial levou-a a conceber um pavilhão e um programa que combinam perspectivas transdisciplinares e práticas colaborativas assentes nos campos de conhecimento da alimentação e da ecologia. Um gesto que carrega uma dimensão crítica acerca do lugar onde acontece que para além de recuperar a sua memória, esculpe-a de acordo com o tempo presente proporcionando o desenvolvimento daquele território.

Remetendo-nos para a ideia de fórum romano, praça pública da antiga Roma, palco de discussão pública, ponto de encontro de grande importância na cidade, o FÓRUM restitui um lugar de encontro na cidade de Guimarães devolvendo metaforicamente o antigo mercado à praça do CIAJG.

Posicionado longitudinalmente sobre a praça onde se implanta, é constituído por uma estrutura em barrotes de madeira intercalada com elementos têxteis na cor branca resgatando a imagem dos antigos mercados e aludindo à tradição têxtil que existe na cidade de Guimarães. Esta estrutura potencia diferentes percursos, atravessamentos ou permanências através do desenho de bancos ou mesas a diferentes alturas para refeições mais rápidas ou mais demoradas ou a venda de produtos.

Aqui promovem-se novas dinâmicas através de uma diversificada programação voltada para a comensalidade que faz um balanço entre o lugar de ontem e o lugar de amanhã. O programa SEM ESPINHAS desenvolve-se em três momentos distintos até dezembro deste ano, apesar de o pavilhão permanecer em Guimarães até março de 2023.

O primeiro momento comportará um workshop com a plataforma colaborativa A Recoletora, que procura recuperar a memória e o desprestígio das plantas silvestres comestíveis, ou antes das “ervas daninhas”, reintegrando-as na nossa alimentação. Contará com o fotógrafo e videasta Alexandre Delmar, a designer Maria Ruivo, a herbalista Fernanda Botelho, a nutricionista Inês Ruivo e as chefes de cozinha Maria Tavares e Anja Repsa.

O segundo momento alerta-nos para os processos de cultivo e consumo através de um mercado, de um showcooking e de uma conversa à mesa. É desenvolvido com o restaurante Cor de Tangerina em Guimarães, que é muito mais do que um restaurante, já que nutre um profundo respeito pela natureza e pelas pessoas, estando relacionado com os modos de cultivo e de alimentação natural e vendo a alimentação como um processo de investigação e transformação.

Por fim, o terceiro momento comportará uma conversa em torno de uma ideia de biovisão, abrangendo temas como a crise económica e ecológica e a crise alimentar, e do mapeamento de um léxico sobre a cultura da comida. Joana Krämer Horta, fundadora do Ponto d’Orvalho, festival transdisciplinar aberto à discussão e à ação ambiental através de intervenções artísticas, sociais e ecológicas e Mariana Sanchez Salvador cuja investigação se foca no modo como os espaços que habitamos, da casa e da cidade ao território, são transformados pela nossa alimentação, pela cultura em torno dela e pelas atividades que lhe estão associadas, operando como uma ferramenta de desenho espacial, são dois nomes que integrarão esta conversa.

Eventos que dão corpo e enriquecem a experiência de atravessar ou permanecer neste FÓRUM. Uma perfeita simbiose entre estrutura e programa que recupera a memória da praça do CIAJG na cidade de Guimarães através de um olhar crítico sobre os discursos da paisagem que devolve a este lugar o seu significado à luz da contemporaneidade.

BIOGRAFIA
Joana Duarte (Lisboa, 1988), arquiteta e curadora, vive e trabalha em Lisboa. Concluiu o mestrado integrado em arquitetura na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa em 2011, frequentou a Technical University of Eindhoven na Holanda e efetuou o estágio profissional em Xangai, China. Colaborou com vários arquitetos e artistas nacionais e internacionais desenvolvendo uma prática entre arquitetura e arte. Em 2018, funda atelier próprio, conclui a pós-graduação em curadoria de arte na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e começa a colaborar com a revista Umbigo.
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