article
Hospes hic bene manebis, hic summum bonum voluptas est*
DATA
16 Jan 2018
PARTILHAR
AUTOR
Umbigo
*Transcrição da frase de entrada para o Jardim de Epicuro, de acordo com Séneca. Da tradução inglesa: “Forasteiro, aqui farás tu bem em delongares-te; aqui o nosso maior bem é prazer” (tradução livre). O jardim sempre ocupou um lugar importante mas discreto na cultura das…

*Transcrição da frase de entrada para o Jardim de Epicuro, de acordo com Séneca. Da tradução inglesa: “Forasteiro, aqui farás tu bem em delongares-te; aqui o nosso maior bem é prazer” (tradução livre).

O jardim sempre ocupou um lugar importante mas discreto na cultura das civilizações e tem sido motor de trabalho de muitos pensadores, artistas e escritores. Da antiguidade clássica é conhecido o jardim de Epicuro, uma espécie de prolongamento, ou substituição, da academia. A deambulação peripatética entre as plantas e uma natureza controlada constituía não só motivo de deleite, mas também fonte de pensamento, numa busca imersiva – e radical – no cosmos. O jardim era, portanto, a concretização da filosofia epicurista, o refúgio para as coisas boas da vida, o isolamento contra qualquer tipo de alteridade.

A história dos jardins conta-nos, justamente, que para lá das qualidades estéticas, estes lugares são espaços de introspeção, solidão e cogitação. E se é certo que pode significar uma tentativa de aproximação entre homem e natureza, também, e alternativamente, não se pode deixar de entender o jardim como uma espécie de atitude tirânica do homem perante a natureza, de dominá-la e subjugá-la aos seus grandes, obscuros e interiores desígnios.

A exposição Gardens, de Luís Silveirinha, percorre vários dos caminhos, significações e significados do Jardim, focando-se principalmente no misticismo, espiritualidade e assombro destes lugares. As obras em guache preto sobre cartão conferem uma vaga semelhança a ilustrações botânicas e motivos vegetais, que se contorcem ao ponto de se abstratizarem. No final, há uma impressão, mais que uma concretização clara de formas. Está-se perante um jardim mental, de imagens sobrepostas, entre o vegetal e o animal. As pinturas são a abertura a todo um cosmos (kósmos) que os jardins comportam, uma ordem, uma harmonia em terra, “um espaço em que a interioridade se transforma em mundo, e onde o mundo se interioriza”, como referido no texto de apresentação.

Para ver na Galeria Diferença, até 27 de janeiro.

PUBLICIDADE
Anterior
article
Balanço do The New Art Fest 2017
15 Jan 2018
Balanço do The New Art Fest 2017
Por José Pardal Pina
Próximo
article
Nova galeria em Lisboa
18 Jan 2018
Nova galeria em Lisboa
Por Umbigo