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Jorge Barradas em retrospetiva no MNAC
DATA
12 Jul 2023
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AUTOR
Frederico Vicente
Jorge Barradas (1894 –1971) foi um pintor, ceramista, ilustrador, caricaturista e gráfico português. Poderíamos começar qualquer texto biográfico de Jorge Barradas com semelhante frase, embora à luz na narrativa atual teria mais sentido falar do artista como artista: com todas as dimensões e direções que o percurso de seis décadas tomou. É esse o tema da exposição Jorge Barradas – No jardim da Europa com curadoria do historiador de arte Carlos Silveira: uma linha crono-tipológica de uma retrospetiva plural.

Jorge Barradas (1894 –1971) foi um pintor, ceramista, ilustrador, caricaturista e gráfico português.

Poderíamos começar qualquer texto biográfico de Jorge Barradas com semelhante frase, embora à luz na narrativa atual teria mais sentido falar do artista como artista: com todas as dimensões e direções que o percurso de seis décadas tomou. É esse o tema da exposição Jorge Barradas – No jardim da Europa com curadoria do historiador de arte Carlos Silveira: uma linha crono-tipológica de uma retrospetiva plural.

Modernista atento à vanguarda do seu tempo, embora não alheio ao contexto sociológico do pós-guerra (deva-se referir em Portugal), Jorge Barradas construiu um percurso eclético. Primeiro no desenho de caricatura e sátira, depois na publicidade até à pintura, para desembocar na cerâmica e na azulejaria. O nome do artista confunde-se precisamente com o renascimento da cerâmica (e da sua história) em Portugal do século XX. Novas criações que se distanciam do imaginário onírico e naturalista da herança de Rafael Bordallo Pinheiro (exaustivamente repetido por artistas e artesãos até aos dias de hoje) para se alinharem com a modernidade.

A exposição patente no MNAC apresenta essa versatilidade característica de Jorge Barradas. Ao longo de quatro salas são desdobrados trabalhos com técnicas e formatos diversos. Desenhos, ilustrações com sátira e humor, numa fase inicial próxima da estética art déco; pintura na segunda sala e por fim painéis de azulejos em diálogo com as inconfundíveis peças de cerâmica decorativa. Uma exposição que se organiza em torno de um critério cronológico, permitindo redescobrir o artista nas suas variadas fases de trabalho e nos diferentes momentos tal como épocas.

O destaque é sobretudo para a segunda sala. As pinturas de grandes dimensões ilustram a passagem do artista por São Tomé e Príncipe (depois de uma breve estadia também no Brasil). Telas compostas por naturezas insulares, pinceladas de um exotismo equatorial vibrante, bem distante do conservadorismo do Estado Novo em Portugal. Uma fase de exploração e experimentação técnica que cedo abandona, embora se revelem pinturas intemporais. De referir que a saturação de cores e formas naturais acabam por transitar para os painéis de azulejo e para as pinturas de final da carreira, mas bem mais surrealistas.

Percebe-se no percurso do artista um certo desejo de constante exploração que o encaminha para a modelação fina da cerâmica. Sob o manifesto “A Cerâmica Não é uma Arte Menor” Jorge Barradas traça um novo rosto, ou busto, para a modelação do barro. A olaria liberta-se da função, ganhando um carácter decorativo, estético e depurado (atrevo-me a dizer que próximo dos primeiros desenhos do artista) mas igualmente popular e bucólico. Cerâmicas de grandes dimensões formam esculturas e os painéis de azulejo soltam-se das paredes para uma tridimensionalidade não óbvia. O legado de Jorge Barradas é atual e não apenas fechado na modernidade – e podemos encontrá-lo na constante curiosidade de uma nova geração de artistas no estudo da disciplina, veja-se o caso de Inês Zenha ou Francisco Trêpa (muito presentes na última ARCO Lisboa) entre vários outros exemplos.

A exposição retrospetiva de Jorge Barradas – No jardim da Europa está patente até dia 27 de agosto na galeria Millennium bcp do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado.

 

BIOGRAFIA
Arquiteto (FA-UL, 2014) e curador independente (pós-graduado na FCSH-UNL, 2021). Em 2018 funda o coletivo de curadoria Sul e Sueste, plataforma charneira entre arte e arquitetura; território e paisagem. Enquanto curador tem colaborado regularmente com algumas instituições, municípios e espaços independentes, de que se destaca "Espaço, Tempo, Matéria" (exposição coletiva no Convento Madre Deus da Verderena, Barreiro, 2020), "How to find the centre of a circle" com a artista Emma Hornsby (INSTITUTO, 2019) e "Fleeting Carpets and Other Symbiotic Objects" com o artista Tiago Rocha Costa (A.M.A.C., 2020). Foi recentemente co-curador, com a arquiteta Ana Paisano, da exposição "Cartografia do horizonte: do Território aos Lugares" para o Museu da Cidade, em Almada (2023). Escreve regularmente críticas e ensaios para revistas, edições, livros e exposições. É co-autor do livro "Gaio-Rosário: leitura do lugar" (CM Moita, 2020), "À soleira do infinito. Cacela velha: arquitectura, paisagem, significado" (edição de autor com o apoio da Direção Regional da Cultural do Algarve, 2023) e de "Geografias Urbanas" (em publicação). A atividade profissional orbita em torno das várias ramificações da arquitetura.
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