article
KORU 6: uma trienal de joalharia contemporânea
DATA
27 Set 2018
PARTILHAR
AUTOR
Ana Campos
KORU é uma trienal de joalharia contemporânea que ocorre há já vários anos na Finlândia. Já na sexta edição, com sede em Imatra, o principal objetivo deste evento internacional é apresentar amplamente a joalharia contemporânea e reunir artistas, palestrantes, investigadores e pessoas com interesse em…

KORU é uma trienal de joalharia contemporânea que ocorre há já vários anos na Finlândia. Já na sexta edição, com sede em Imatra, o principal objetivo deste evento internacional é apresentar amplamente a joalharia contemporânea e reunir artistas, palestrantes, investigadores e pessoas com interesse em joalharia contemporânea para participar das exposições, seminários e workshops.

Nas três exposições preparadas para o evento, em várias cidades finlandesas, participou uma série de artistas e joalheiros provenientes dos países nórdicos e bálticos maioritariamente, com participação portuguesa a representar-se por Cristina Filipe e Manel Vilhena.

Entendo que precisamos de um mundo da arte e da joalharia contemporânea conjuntos. Aproximo-me do mundo da joalharia contemporânea, tentando institui-lo como uma arena discursiva, como um sensório, como um mundo de razões simbólicas que propõe experiências estéticas simbólicas e reflexivas. Reconheço que os joalheiros contemporâneos nos propõem símbolos que comunicam algo intencionalmente, através de tropos retóricos e camadas de significados. Há razões a priori para que a vida contribua para esta atmosfera discursiva. Devemos igualmente interpretar o significado que as joias nos propõem, como uma tarefa hermenêutica

No entanto, neste momento, vou considerar que o mundo da joalharia contemporânea – onde o KORU e eventos semelhantes se incluem – tem sido até agora um mundo bastante institucional, ligado a galerias e museus que abrangem ou mantêm relações de proximidade com esse mesmo meio, seguindo protocolos com uma lógica própria. Mas este mundo institucional não se conecta com uma atmosfera teórica. A reflexão teórica sobre joalharia contemporânea, acima de tudo filosófica e crítica, é escassa. São os próprios joalheiros que contribuem para questionar seu próprio mundo, através da sua obra.

O mundo da joalharia contemporânea, no presente, é bastante associável – mesmo que não seja o mesmo – ao mundo da arte conforme Morgan descreve (MORGAN, 1998). Este autor entende que nos anos oitenta se estabeleceu um mundo da arte de natureza institucional e constrói-se como uma empresa social, política e económica que funciona associado a alternâncias de lobbies. O mundo da arte está atualmente configurado como uma base onde a arte e os artistas encontram o seu sustento para emergir. Numa lógica de reação em cadeia – aquela que Morgan comenta como se fosse global – a arte em si tornou-se uma espécie de móvel relevante, como mercadoria cultural, irrelevante para reconfigurar a discussão artística. Para Morgan, essa arte oferece-nos discursos emoldurados por ideias e retóricas da moda, encerradas numa linguagem académica rígida.

Estas considerações levam-me a pensar na lógica do mundo da joalharia como algo similar à comunidade de apoio de um artista, tal como definida por Morgan nos anos setenta. Os joalheiros, o seu trabalho e as transfigurações que eles propõem formam o núcleo dessa comunidade, da qual a crítica filosófica está bastante ausente. No campo da joalharia contemporânea, as instituições são geralmente percebidas como insiders do perímetro da comunidade.

Deste modo, arriscando-me a especular, digo que certas galerias e eventos como o KORU estão incluídas na mesma plataforma de significado, onde a natureza híbrida da joalharia contemporânea se compreende.

PUBLICIDADE
Anterior
article
Golden Dreams, de Sofia Castro, em torno da presença do oco na escultura
25 Set 2018
Golden Dreams, de Sofia Castro, em torno da presença do oco na escultura
Por Manuela Synek
Próximo
article
O meu nome é McQueen. Alexander McQueen.
01 Out 2018
O meu nome é McQueen. Alexander McQueen.
Por Mariana Ferreira Machado