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DATA
22 Jun 2017
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AUTOR
António Cerveira Pinto
Nesta exposição, os heróis da cultura popular servem de trampolim para as deslocações de narrativa e sentido nas obras mordazes e surrealistas de António Carvalho Salvador. Batman, Brian Adams ou o National Geographics, epítetos da cultura popular global, são reduzidos (ou ampliados?) a figurinhas de…

Nesta exposição, os heróis da cultura popular servem de trampolim para as deslocações de narrativa e sentido nas obras mordazes e surrealistas de António Carvalho Salvador. Batman, Brian Adams ou o National Geographics, epítetos da cultura popular global, são reduzidos (ou ampliados?) a figurinhas de uma espécie de teatro chinês de sombras, títeres indefesos perante a natureza absurda da realidade.

Por sua vez Pedro Zamith, em linha com o que vem fazendo há já algum tempo, transpõe heróis e anti-heróis bem conhecidos do cinema fantástico, negro e de terror (Barton Fink, ou os fantasmas das irmãs gémeas Grady, assassinadas, do filme The Shining) para o papel do desenho e a tela da pintura. Estamos, pois, diante de uma manifestação típica de postmedia art, uma extensão, do conceito ‘post-internet art’. Quase sem exceção acedemos hoje à cultura, ou melhor dito, ao entretenimento, através de retinas tecnológicas, transparentes ou opacas, através das quais acedemos à emergência eletrónica das imagens. Este meio de sentir o que vemos não tem, nem matéria, nem cor, nem cheiro, e as suas imagens têm todas a mesma natureza imaterial fugaz. Não precisamos de as memorizar, porque podemos aceder a elas sempre que quisermos. Ao trazer estes zombies para o papel e a tela, Pedro Zamith realiza o desejo de materializar criaturas que ardem à menor fricção, ou vão parar ao lixo provisório ou definitivo de um qualquer telemóvel, televisor ou laptop a que falte subitamente a energia elétrica.

Por fim, Guttguff é uma filha da Internet. Os pequenos desenhos diários de António José Carvalho vão migrando paulatinamente para a digitalização, e depois para o Instagram. Nesta rede social os desenhos ganham escala e aura. A sua partilha com o mundo é imediata, e o feed-back também. O que antes parecia tão difícil – encontrar alguém que editasse os seus bonecos, ou lhe garantisse exposição – tornou-se uma extensão do próprio desenho e do seu autor, pela via da desmaterialização digital e do transporte eletrónico. Estamos, uma vez mais, em presença de uma típica situação ‘postinternet art’. O que estava no computador, ou no smartphone, regressa à realidade material! Mas ao contrário do seu irmão gémeo, e de Pedro Zamith, a par das referências igualmente reiteradas ao mundo da cultura popular mediática, as histórias deste pseudónimo de António José Carvalho são mais autobiográficas e intimistas. Domina-as uma espécie de alucinação narrativa povoada de humores ácidos, onde a imagem das coisas e dos significados tem origem numa qualquer anarquia de paradoxos.

Inauguração: 22 de junho, 19h

Patentente de 23 de junho a 21 de julho, 2017 – segunda a sexta das 12h às 19h

Editora da Livraria Sá da Costa – Praça Luís de Camões, 22 – 4º Andar, Lisboa

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