07 Out 2025
Soundscape | Xoán-Xil López
Ensaiopor Xoán-Xil López
PARTILHAR
Entre os possíveis usos da palavra "tropo", um deles é a prática musical de adicionar ou sobrepor materiais novos a uma obra pré-existente.
Partindo do convite do artista Fernando José Pereira e da primeira paisagem sonora que ele próprio criou para a Umbigo.space, esta segunda composição retoma a ideia do tempo dilatado como uma utopia de escuta frente à implacável aceleração da atenção nos meios digitais, e expande a sua linearidade para um eixo vertical, instalando-se em outros lapsos possíveis definidos pela simultaneidade ou pela sedimentação.
Assim, Tropo existe em si mesma como criação autónoma, possui a sua própria identidade, mas pode dobrar-se sobre a peça com que Fernando inaugurou esta série. Tropo é, em última instância, uma dobra, como diria Deleuze. Em muitos sentidos, um desdobramento que “se torna acumulação”.
É uma composição realizada única e exclusivamente a partir dos sons gerados pelo órgão ibérico da Universidade de Santiago de Compostela, um dispositivo construído entre 1800 e 1802, datas que permitem ainda o revelar de características que seguem os padrões do Barroco. As suas possibilidades tímbricas repousam em grande parte na multiplicidade de registos sonoros que podem ser combinados e sobrepostos, enquanto são alimentados pelo ar insuflado pelo fole, construído “dobra sobre dobra”, e que forma a reserva de ar com a qual se controla a pressão.
Mas Tropo é, acima de tudo, uma dobra cronológica, onde se propõe um possível diálogo entre os sons criados digitalmente e aqueles exalados por um instrumento acústico que, após mais de 225 anos, continua plenamente vigente e em rebelião contra uma obsolescência que, na maioria dos casos, responde mais a questões e interesses marcados pelo capitalismo tecnológico do que a propostas estéticas ou simbólicas.
A rubrica Soundscape tem curadoria de Fernando José Pereira
BIOGRAFIA
Xoán-Xil López é artista sonoro/compositor e investigador. O seu trabalho gira em torno da prática fonográfica e da experimentação sonora, assumindo a forma de instalações, situações imersivas de escuta, composições, performances e textos. Grande parte de sua produção artística/musical desenvolve-se através de processos de pesquisa centrados na dimensão sonora de diferentes práticas culturais e tecnológicas, entendendo a escuta como uma forma de conhecimento. As suas obras foram apresentadas em instituições internacionais como Ars Electronica (Áustria), New Media Gallery (Canadá), Schlossmediale (Suíça) ou Le Bon Accueil (França) e em Espanha como o Museu Centro de Arte Reina Sofía, IN-Sonora, Etopia Centro de Arte y Tecnología ou LABoral, entre outros. Leccionou oficinas, seminários e conferências sobre arte sonora em universidades e centros de criação como o Art|Sci da UCLA, o Centre de Recherche sur l’Espace Sonore et l’environnement Urbain, a Universidade do Porto, o Museum of Contemporary Art ZKM ou o Medialab Prado. Além disso, integrou o coletivo interdisciplinar dedicado ao estudo da paisagem sonora, Escoitar.org (2006–2016), e a sua música, em colaboração com o grupo Haarvöl, foi lançada pela editora Crónica Electrónica.
Anterior
interview
capa do mês
01 Out 2025
Photoshop Mental: Botond Keresztezi sobre Memória, Tecnologia e o Colapso do Tempo
Por Alexander Burenkov
PROJETO PATROCINADO POR