article
Equivalência e Desequilíbrio, de Marcelo Cidade
DATA
20 Out 2020
PARTILHAR
AUTOR
Diogo Graça
Equivalência e desequilíbrio, de Marcelo Cidade, está em exposição na Galeria Bruno Múrias, em Lisboa, até 7 de novembro. Trata-se de uma série de esculturas que faz alusão à série Equivalents, de Carl Andre, ainda que aqui numa versão mais agressiva e texturada: um trabalho…

Equivalência e desequilíbrio, de Marcelo Cidade, está em exposição na Galeria Bruno Múrias, em Lisboa, até 7 de novembro. Trata-se de uma série de esculturas que faz alusão à série Equivalents, de Carl Andre, ainda que aqui numa versão mais agressiva e texturada: um trabalho que apresenta quase 100 paralelepípedos de betão adornados de pontiagudas rochas calcárias.

Dispostos no piso da sala principal da galeria, os paralelepípedos achatados preenchem o espaço numa lógica de puzzle ou montagem LEGO, que remete às conceções de urbanização, organização e segmentação do espaço público.

Grandes centros urbanos possuem zonas restritas e perímetros de acesso limitado, o que constituiu por si só um contrassenso, não ocorresse esse fenómeno precisamente em espaços – supostamente – públicos. Partindo dessa observação, Cidade interpela o visitante desde a sua entrada na galeria com constrangimentos e proibições de locomoção pelo espaço, através de uma estratégica disposição dos blocos de cimento, à semelhança do que ocorre com a colocação de pedras, barreiras ou estruturas pontiagudas em determinados centros urbanos com o intuito de afastar determinados grupos de pessoas; de resto como acontece em Barcelona e outras capitais mundiais para evitar a afluência de skaters e outros grupo sem determinadas zonas da cidade.

Em Equivalência e Desequilíbrio essa vertente agressiva e segregadora está ainda figurada nas pedras pontiagudas que cobrem as placas de betão. Numa espécie de micro (ou macro) escala do que o artista notou ser uma realidade crescente na cidade onde vive – São Paulo.

A reflexão social e urbanística proposta não é imediata, mas não por isso menos interessante ou pertinente.

No cômputo geral, a série de esculturas de Marcelo Cidade constitui-se como uma discreta, polida e sóbria reflexão sobre uma questão aparentemente apenas estética e/ou arquitetónica, mas que na realidade é mais profunda e complexa. Em comunicação com alguns dos seus trabalhos anteriores, Cidade apresenta uma problematização da arquitetura modernista, do espaço público e o capitalismo – e todas as dimensões emocionais e sociais que deles advém e que com eles comunicam – a partir de uma minimalista e resistente série de blocos de betão.

PUBLICIDADE
Anterior
article
Entrevista com Pedro Gomes
19 Out 2020
Entrevista com Pedro Gomes
Por Francisco Correia
Próximo
article
maat extended disponível online
21 Out 2020
maat extended disponível online
Por Umbigo