No passado dia 30 de abril, a galeria Nuno Centeno inaugurou a exposição This side of Nowhere, da artista portuense Carolina Pimenta. No texto da exposição, Bernardo José de Souza descreve a obra fotográfica da artista enquanto uma criação atmosférica que “promove narrativas visuais que se constroem mediante a tecnologia afetiva mais elementar à nossa espécie, o tato, sentido que se impõe sobre os demais para conceder à pele plena soberania sobre o desejo”.
Em This side of Nowhere, Carolina Pimenta apresenta-nos o potencial sensorial da fotografia. Num conjunto de imagens a artista relembra-nos a capacidade que uma fotografia tem de despertar como que um reflexo emocional do subconsciente. Através de memórias de sensações passadas, num afastamento de sistemas de organização temporal e espacial narrativa, há na obra da artista uma abertura para a apreciação pura, que se afasta da racionalização da obra no sentido da incorporação da própria, à semelhança de uma memória Proustiana.
Um dos primeiros momentos da exposição será o confronto com uma barreira de tecido, uma imagem rasgada que recebe o público como uma iniciação, uma fronteira com aquele que é o espaço de apreciação das obras. Esta imagem, realizada em colaboração com a designer Constança Entrudo, representa uma muito literal barreira entre o espaço que é de exposição, e o que não o é. Num segundo momento, numa sala escura, esta separação repete-se, não num formato imagético ou até poético de atravessamento físico da obra, mas nem por isso menos claro. Nesta separação inicia-se uma disponibilidade para a obra, como que uma rendição à atmosfera da artista.
“Amplas imagens de campos e flores ‘pintadas’ fotograficamente por Carolina abrem janelas à paisagem exterior” escreve Bernardo José de Souza, num reconhecimento da obra enquanto meio intermediário para aquela que será a essência da sensação experienciada perante as paisagens escolhidas pela artista. As flores não são irreconhecíveis, pelo contrário, são mais reconhecíveis do que se estivéssemos na sua presença – há na obra da artista uma capacidade de evidenciar a essência das sensações causadas por “campos e flores”. Em Sobre Fotografia, Susan Sontag escreve “Finalmente, o mais grandioso resultado da fotografia é dar-nos a sensação de que somos capazes de segurar todo o mundo nas nossas cabeças – como uma antologia de imagens”. Na associação de memórias – sejam imagens, cheiros, texturas ou emoções – estará também a capacidade de apreciação da fotografia. Poderá um campo de flores lembrar o calor do sol e a frescura do ervado nos pés descalços de uma tarde de verão? E uma imagem de duas mãos abraçadas, o que poderá lembrar? A artista apresenta imagens transversais, sugestivas, para serem experienciadas pelo público sem determinações narrativas, criando um espaço para o outro.
A exposição de Carolina Pimenta está patente na Galeria Nuno Centeno até ao próximo dia 28 de maio.