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Esculturas entre a comédia e o drama: Kostis Velonis na Monitor
DATA
03 Mar 2022
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AUTOR
Matteo Bergamini
Tijolos, pedaços de madeira, gesso, formas em barro, cimento, cerâmica – tudo matérias pobres que compõem as obras do artista grego Kostis Velonis (Athena, 1968), na sua primeira exposição individual em Portugal, na Monitor, em Lisboa. Slapstick Masonry é o titulo da mostra, desenvolvida de…

Tijolos, pedaços de madeira, gesso, formas em barro, cimento, cerâmica – tudo matérias pobres que compõem as obras do artista grego Kostis Velonis (Athena, 1968), na sua primeira exposição individual em Portugal, na Monitor, em Lisboa.

Slapstick Masonry é o titulo da mostra, desenvolvida de forma a criar uma série de “objetos-sujeitos” cuja identidade pertence ao teatro – ou melhor, àquela forma de “comédia baseada em deliberadas ações desajeitadas e eventos embaraçosos” (slapstick), também conhecida por commedia dell’arte.

Kostis inspira-se em instrumentos que produzem ruídos utilizados ao longo da história do teatro; o artista constrói itens e mecanismos que, impulsionados, simulam uma ação – por exemplo, uma bofetada. Deste modo, as obras transformam-se numa  espécie de ferramentas vivas, de objetos com alma.

Eis que esses artefactos correspondem a uma dupla identidade. Se por um lado têm a forma de esculturas, por outro entrevemos neles os mecanismos que se apresentam por detrás da usa função: os sons e os estrépitos.

Porém, na Monitor, há também uma série de “máquinas celibatárias” deitadas sob o piso da galeria. Aqui, como nas peças teatrais, nem todos os objetos servem à própria função. De facto, muitos deles são descritos por Kostis como “produtos trôpegos”, isto é, são inúteis. Esses tornam visível a frustração e os fracassos que os artistas, atores, escritores enfrentam durante a conceção da obra e durante o percurso da própria carreira.

Kostis põe perante os nossos olhos o resultado metafórico de infinitas “peças rasgadas”, como acontece com Backstage: um balde de plástico cheio até a orla de cimento, fita de papel, tinta e gesso.

A propósito de Backstage, a mostra contém uma outra referência ao mundo do teatro e abertamente declarada pelo artista: “Usei o chão da Monitor come se fosse um palco, uma cenografia”, revela Kostis. Nunca poderia ter feito escolha melhor: os quadrados brancos e vermelhos do piso térreo da Monitor são o proscénio perfeito para representar esta coletânea de objetos que parecem desejar a própria independência, isto é, procuram libertar-se do próprio papel.

Ao aproximarmo-nos das esculturas é preciso observá-las minuciosamente, emprestando tempo à imaginação para as tentar compreender: a todas pertence uma “narrativa instável, fugaz”. Elas são os resultados dum caminho percorrido por um “sonâmbulo cambaleante”.

Embora todos os materiais pareçam coesos, eis o que parece ser uma rachadura: são as esculturas de Kostis – ao mesmo tempo união e divisão; são tudo o que há de certo, tudo o que há de errado no obscuro levantamento da arte. É um antagonismo de vitórias e de derrotas da tensão humana, sempre entre a comédia e o drama.

Slapstick Masonry, de Kostis Velonis, está patente na Monitor – Lisboa, até o dia 19 de março.

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