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Esculturas Infinitas: Do Gesso ao Digital, no Museu Calouste Gulbenkian
DATA
21 Dez 2020
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AUTOR
Carla Carbone
A exposição Esculturas Infinitas apresenta, no seu núcleo central, uma coleção de gessos pertencentes à Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. Sendo o núcleo de réplicas o elemento gerador do conjunto de obras que se desenvolve em seu redor. Será oportuno, por esse motivo, falar um…

A exposição Esculturas Infinitas apresenta, no seu núcleo central, uma coleção de gessos pertencentes à Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. Sendo o núcleo de réplicas o elemento gerador do conjunto de obras que se desenvolve em seu redor.

Será oportuno, por esse motivo, falar um pouco sobre o material que estabelece a narrativa, e o elo entre as várias peças expostas. Da antiguidade à contemporaneidade.

É a partir desses modelos em gesso que se preconizam todas as outras peças mais contemporâneas.

O gesso, fino pó, geralmente branco, ao qual é adicionado água, e que, pela reação química, liberta primeiro calor e depois solidifica, tem servido tanto para medicina, como para o simples ato de cobrir paredes.

Nas artes plásticas, o material tem sido sobejamente utilizado em escultura. Mais precisamente o denominado gesso plástico, aplicado em moldagem de formas artísticas.

Ao longo da exposição, apreendemos as várias aplicações que o material pode assumir, e apercebemo-nos do quão frágil este mesmo material se pode tornar.

O gesso aplicado em escultura é mais fino do que o gesso aplicado em construção,  ou em medicina. Este último sendo mais maleável.

Para quem não tiver conhecimento, o gesso aplicado em Belas-Artes pode ser de dois tipos, do tipo alfa ou beta. O primeiro, fino e branco, o segundo usado para moldes cerâmicos. Revelando, em consequência, a imensa quantidade e versatilidade de moldes existentes.

A envolver o conjunto de gessos da coleção da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, encontramos obras impactantes de Asta Gröting. Estas obras consistem no decalque direto de fachadas de edifícios berlinenses. Compreendem à superfície buracos deixados por balas oriundos da segunda guerra mundial, evocando conflitos e vidas humanas desperdiçadas. Gröting imprimiu sobre as telas, em silicone, todos os sinais do tempo, de modo a conservar a história da Alemanha.

Acompanhando o núcleo central, encontram-se também as impressionantes, e realistas, esculturas de Christine Borland. Tendo a artista, outrora, envolvido no tema da medicina forense, encontrou, em 2010, um molde de um corpo humano dissecado, numa pose que lembrava, à artista, a Pietá de Miguel Ângelo. No espaço da galeria surgem duas réplicas desta figura, uma na posição original, e uma outra em posição invertida. Dando a aparência de um corpo a levitar.

Outra obra, presente na exposição, e que impressiona pelo realismo que ostenta, é a obra Primata, da irlandesa Daphne Wright. Reproduzida a partir de um molde de um primata, imediatamente após a sua morte, a artista estabelece uma “arqueologia das emoções”. A acompanhar esta peça encontram-se outras duas, a que a artista chamou Sons, e que consistem numa tentativa de a artista captar, conservar, a inevitável transformação dos filhos, de capturar o tempo, o registo do seu crescimento, irrevogável. Artesãos acompanham a artista, dada a complexidade das obras em que empreende. Em Primata podemos observar o vigor impresso na superfície texturada, através de um bordado realizado para representar, com expressão e realismo, os pelos do animal.

O artista Heimo Zobernig apresenta uma figura humana gigantesca em bronze, de 2015, que desperta referências sci-fi longínquas, recuando, quiçá, a memórias juvenis. O humor na exposição é também revelado, por meio de máscaras do artista francês, Jean-Luc Mouléne.

Outros trabalhos, igualmente importantes, são apresentados nesta exposição única: podem ser vistas obras de Charlotte Moth, Jumana Manna, Marion Verboom, Michael Dean, Oliver Laric, Simon Fujiwara, Steven Claydon, Francisco Tropa, Xavier Veilhan, David Bestué, e Aleksandra Domanovic.

Até 25 de janeiro de 2021, no Museu Calouste Gulbenkian, com a curadoria de Penelope Curtis, Rita Fabiana, Thierry Leviez e Armelle Pradalier.

BIOGRAFIA
Carla Carbone nasceu em Lisboa, 1971. Estudou Desenho no Ar.co e Design de Equipamento na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Completou o Mestrado em Ensino das Artes Visuais. Escreve sobre Design desde 1999, primeiro no Semanário O Independente, depois em edições como o Anuário de Design, revista arq.a, DIF, Parq. Algumas participações em edições como a FRAME, Diário Digital, Wrongwrong, e na coleção de designers portugueses, editada pelo jornal Público. Colaborou com ilustrações para o Fanzine Flanzine e revista Gerador.
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