Este ensaio propõe reflexões a partir de 12 exposições atualmente patentes em Munique, bem como a experiência de regresso à cidade alemã a convite da Various Others. Escrevo sobre escrever e aprender, sobre espanto, democracia, cuidado, tecnologia e fantasmas, dentre outros.
8 de maio de 2025, quinta-feira
Estou no aeroporto de Lisboa e tenho sono. Já faz muito tempo (algumas décadas, sendo que eu mesma ainda não completei a terceira em vida) desde que escrevi um diário e, agora, não sei muito bem porque esta me pareceu uma boa ideia. Nunca me interessou, particularmente, o formato de uma descrição íntima do quotidiano: no auge da minha prepotência de leitora de psicanálise e analisanda, combinada a uma personalidade bastante tendenciosa ao juízo sobre tudo, sempre considerei dispensável o esforço de dar concretude (ou, na verdade, somente uma segunda abstração) às palavras que já havia conhecido no interior do meu corpo. Se não interessa sequer a mim, que dirá à pessoa leitora — era a minha convicção (espero ser convencida do contrário). De toda forma, confesso, assumo a forma diário com um objetivo bastante pessoal: resgatar um pouco do espírito experimental da escrita e do prazer de pensar fora. Transformar um sonho de infância em trabalho é, ao mesmo tempo, uma aventura e uma armadilha: entre folhas de exposição, ensaios críticos e artigos académicos, sinto-me, por vezes, uma equilibrista numa corda bamba, com as articulações engessadas e muito frio na barriga. Preciso lembrar de caminhar devagar, lubrificando os ligamentos, levando a linguagem ao peito, com cuidado para não a deixar cair e se espatifar no chão. Mas estou segura, tenho cordas à cintura — e por isso deixo-me escrever mais livremente, ainda que saiba perfeitamente que darei alguns passos atrás para mudar uma palavra aqui, retirar uma vírgula ali, buscar um sinónimo acolá (já o fiz).
Viajo novamente a Munique a convite da Various Others (VO), iniciativa que, desde 2018, inspira o intercâmbio e a cooperação internacional entre galerias e espaços geridos por artistas, que se unem na cocriação de novos programas expositivos e de convívio. Penso sobre regressos e sobre as expectativas em torno de encontrar, um ano depois, uma mesma cidade. As ruas de Munique, certamente tão limpas e ordeiras como me recordo, terão, dessa vez, um vento levemente mais gélido: estamos ainda na primavera, não como na passada VO, que decorreu durante o verão. Antecipo as exposições que verei, percorro o programa de imprensa à procura das palavras e imagens que já de partida me brilham os olhos, coloco um asterisco ao lado de alguns espaços, adiciono a lápis atividades e visitas pelo meio. Penso nas confraternizações, cafés, jantares e preparo-me para dias de muitos quilómetros andados e uma grande energia social dispensada. Não estou, de todo, a reclamar — vejam bem: essa é exatamente a minha ideia de um fim-de-semana bem vivido.
A viagem que tenho pela frente não é tão longa, mas, é claro, tive de chegar no aeroporto com duas horas e meia de antecedência, como de costume. Não faz muito tempo estava ainda a participar numa conversa acerca do que é ou pode ser uma escola para a imaginação — questão que me leva a outra inquietação de dentro que merece o fora: qual foi a última coisa que aprendi? Que tipos de disposições e dispositivos logram despoletar um processo de aprendizagem, uma sinapse inédita, um suspiro espontâneo? Já sentada no avião, a flutuar com toneladas no céu, percebo que é este também o desafio de uma imersão em arte, numa cidade que não a minha, com pessoas (ainda, ou não completamente) estranhas: deixar-se surpreender, desaprender alguma coisa, fermentar outra.
9 de maio de 2025, sexta-feira
Pousei em território alemão já depois da abertura oficial da Various Others. Perdi uma aula de literatura na universidade, em Lisboa; uma série de inaugurações em galerias, em Munique; e todos os incontáveis eventos, ao redor do mundo, que aconteciam entre as 17h e as 23h de ontem. O meu evento particular era ler, escrever, correr para apanhar algum dos últimos comboios, bater as rodinhas desorientadas de uma mala de mão velha pelo centro da cidade e, finalmente, deitar na cama para ter insónia (pensei nessa frase antes de chegar ao hotel e sinto que conjurei o meu destino sonâmbulo). Pela manhã, reencontro três rostos conhecidos e acolhedores, colegas de imprensa de Berlim e Glasgow: Urte, Susanne e Toby. Vamos juntos até ao Palácio Herrenchiemsee, em Chiemsee, visitar a recém-aberta exposição Are we still up to it? – Art & Democracy, com curadoria de Verena Hein e Oliver Kase. No caminho, somos oferecidos croissants frescos, bem cuidados, como sempre, pelo diretor Christian Ganzenberg e toda a equipa Various Others. O alemão nas vozes à minha volta soa-me como música de fundo, e, sem conseguir atribuir significado aos sons, deixo-me meditar sobre as paisagens planas e as casas de campo que passam à janela.
Com os temas da mostra em mente, começo, então, a pensar sobre duas questões que me parecem essenciais ao debate sobre a democracia. Primeiro, o problema da tradução (ou, de forma mais ampla, da transmissão): quando não se partilha a língua, um simples gesto com as mãos, uma diferença no olhar ou uma mudança de postura podem indicar o foco, a importância de algo. Sem conhecer os códigos expressivos de determinada coletividade, fazem-se necessários outros modos de situar-se no espaço e de prestar atenção. Depois, pondero sobre o que significa pensar a democracia a partir daquele lugar, em específico: um Palácio real (feito à semelhança de Versailles, símbolo da monarquia absolutista e casa do mais longo reinado da história, com Luís XIV), localizado numa ilha. A princípio, parece, de facto, um empreendimento inadequado — intuitivamente, sentimos que a democracia está onde está o povo. Mas há (ou deveria haver) restrições à sua extensão? À volta do Palácio, o lago Chiemsee — maior lago da Baviera — é, sozinho, casa de mais de 1% de todas as espécies de aves invernantes do mundo, bem como de uma série de peixes em perigo de extinção. Não estaria a vida pública também aí, numa ilha desabitada por humanos durante parte do ano, cercada e emaranhada daquilo que chamamos natureza? Ainda assim, acabo por deixar a exposição convicta de que a democracia não é verde. Será, com efeito, sempre vermelha, cor da revolução, da ferida, da guerra, do desejo, do tijolo — anunciada, inclusive, em Rose for Direct Democracy (1973) ao início da mostra. Are we still up to it? – Art & Democracy é, sem dúvida, uma reunião de grandes: há, por exemplo, os sempre impressionantes Francis Bacon, Pablo Picasso ou Andy Warhol, bem como Thomas Schütte e Sheila Ricks, contemporâneos destacados pela curadoria. Da minha parte, destaco duas obras cuja força segue sustenta em cada reencontro: Democracy is Funny (1973) de Joseph Beuys e Teaching A Plant The Alphabet (1972) de John Baldessari.
Dali, voltamos ao centro de Munique para aquele que será o primeiro (e forte) percurso entre as galerias. Na Nir Altman, ressoa o inverno — bem como a guerra e o isolamento — em Now the east wind hunts, quarta individual da dupla britânica littlewhitehead no espaço. Através das suas características composições algo esculturais — nas quais imagens são gradualmente reduzidas a formas quase abstratas, que ganham, depois, relevo sobre a tela —, tingidas em tons frios e pálidos de azul, rosa e verde, a galeria se transforma numa floresta de fantasmas, quiçá desaparecidos por debaixo de uma espessa camada de neve e abandono. Na Sperling Munich, que convida à colaboração a galeria mexicana Pequod Co., expõem Malte Zenses (natural de Solingen), com novos trabalhos produzidos em residência na Cidade do México — e que também se desdobram, simultaneamente, na sua primeira individual no país latino-americano —, e Andrew Roberts (natural de Tijuana, cidade delimitada pela fronteira mais atravessada do mundo), com a sua primeira mostra na Alemanha. Segundo os diretores das galerias, este é o primeiro cruzamento, fruto do estímulo da Various Others, no qual também a parte alemã viaja sobre o Atlântico. Penso, uma vez mais, na experiência de pertencimento que pode surgir na dificuldade de uma transmissão de códigos. Dessa vez, contudo, percebo também a importância de, por vezes, resistir à partilha, reiterando a não-comunicabilidade e alteridade de certos signos, modos de vida ou subjetividades. Na visita guiada no Palácio, insistiu-se no alemão. Zenses, na América Latina, insiste na pintura — num contexto de politização da arte que, também conforme os diretores, confronta a pintura com a constante necessidade de justificar a própria existência. O resultado é uma exposição íntima, lúcida, que, nalguma medida, também se parece com um diário.
Na Britta Rettberg, junto à The Breeder, de Atenas, e Ravnikar, de Ljubljana, seis artistas compõem aquela que, dentre a seleção do que foi possível visitar em três dias, julgo ser uma das mostras mais coerentes e delicadas desta edição (nota posterior: no próximo dia deste registo, outras juntar-se-iam a esse conjunto). Em This Must Be the Place, vê-se o cuidado despendido não apenas na seleção dos trabalhos e autoras, mas, também, nas investigações que informam as práticas de Nina Celhar, Laura Ni Fhlaibhin, Kyriaky Goni, Caro Jost, Malvina Panagiotidi e Helena Tahir. Da ilha vamos à Marte, e permito-me expandir a pergunta sobre o lugar da democracia (e do colonialismo e imperialismo) a outros planetas. Mesmo assim, uma preocupação comum é a terra — a terra que guarda vestígios de deslocamentos, memórias familiares, plástico, minhocas, cogumelos e (até!) palavras e objetos ordinários. Aprendo, particularmente, com a vocação especulativa de Laura Ni Fhlaibhin, que tece histórias de doenças e de curas partilhadas entre humanos e não-humanos, lembrando-nos da beleza e da responsabilidade envolvidas num processo de luto e preservação interespécies.
Antes de voltar ao hotel para recarregar todas as baterias, consigo incluir mais uma mostra ao meu itinerário: Works of Wonder, no espaço ERES projects. Entre objetos do período renascentista ou barroco e peças contemporâneas, conjugam-se trabalhos de manualidades sofisticadíssimas — cuja preciosidade deriva, também, do reconhecimento primeiro (e intensificação) da raridade e beleza já existentes no mundo, entre, por exemplo, os corpos animais e vegetais com os quais convivemos. Por acaso, o título da exposição — que fora a última do dia — evoca, literalmente, aquilo que havia dito ser o desafio de tal imersão artística: libertar um genuíno “wow”.
Concluo a sexta-feira bem acolhida num dos jantares oferecidos pelas galerias. Converso sobre sonhos de criança e de adulta, livros de artista, autonomia, investigações que perduram e relacionamentos que acabam.
10 de maio de 2025, sábado
Hoje, o segundo percurso pelas galerias participantes arranca, por sorte, mais ao final da manhã, o que me permite ficar mais tempo à mesa do pequeno almoço a escrever. Sinto-me descansada e com energia para aquele que, já sei, será o dia com mais quilómetros contados na aplicação do telemóvel. Atraso-me para o primeiro ponto de encontro (depois de estar, com a antecedência ansiosa de sempre, numa morada equivocada), mas sou recebida com o sorriso doce e compreensivo de Lucrezia Levi, coordenadora de comunicação da Various Others, que, até então, não tinha tido o prazer de conhecer pessoalmente.
Logo no início da tour está a nouveaux deuxdeux — que recordo, desde a VO passada, articular um programa entusiasmante com artistas emergentes. Mais uma vez, não dececiona: com SYZYGY, alinham-se perfeitamente a pesquisa molecular de Thomas Feuerstein (representado pela vienense Galerie Elisabeth & Klaus Thoman) e as neo-máquinas de Mona Schulzek. Com ambos, o imaginário tecnológico se rematerializa, tem peso, metabolismo e uma ideia de futuro também selvagem. Aqui, também — como na mostra na Britta Rettberg —, as investigações levadas a cabo por Schulzek, no contexto de uma comunicação intergaláctica e do tempo profundo, e Feuerstein, com as suas ativações biofílicas, traduzem-se em trabalhos de uma enorme e revigorante profundidade conceitual.
A essa altura, já deve estar claro à pessoa leitora que tenho uma especial afinidade pelos temas da ecologia e das relações mais-que-humanas (sejam estas com matérias vivas ou não vivas). Por isso, embora tenha perdido a reabertura oficial na quinta-feira, tive de incluir no sábado uma passagem pela Lothringer 13 Halle — galeria municipal que, com o fôlego da nova direção de Kalas Liebfried, pretende radicalizar a incorporação dos valores comunitários e experimentais do espaço aos processos artísticos que fomenta e expõe. Em Anarchic Animism — programa conjugado com o Festival ECOCIDE, de edição anual e no âmbito da Various Others —, serpenteamos por ambientes distópicos que nos levam ora a um subterrâneo húmido, ora a um recorte romântico de uma natureza que toma a terra de volta, ora ao lançamento de um foguete (com assentos bastante exclusivos) em direção à conquista de um outro planeta. Em quaisquer das hipóteses, o futuro já foi cancelado (Future Cancelled, 2018, Georgi Gospodinov): nós já não lá estamos ou não podemos chegar. Na pintura que “espelha” uma das salas da galeria (Scenography, 2025, Paul Valentin), inclusive, tudo está duplicado, menos nós. Sentinelas de sucata movem-se pelo espaço. Objetos doentes reidratam-se e tocam música, sozinhos — uma instalação visual e sonora impressionante de Antoni Rayzhekov (Until the last drop, 2022), onde a queda de cada escassa gota de água irrompe uma nota musical. Esperamos, mergulhados na tensão entre aqueles corpos, o instante raro quando gotas caem em simultâneo e se faz uma orquestra. Quando a exposição for desmontada, o vazio será somente nosso — os parasitas de Maxine Weiss (Deepwater Horizon, 2024) continuarão a surgir, à sua própria vontade, pelas paredes.
Tenho algum tempo antes do grande jantar de colaboradores para visitar, ainda, a Jahn und Jahn, que apresenta Still Life de Remi Ajani. Com pinceladas espessas, contornos mais ou menos difusos e uma marca visual bastante distintiva, a artista inglesa contrapõe arranjos florais e corpos a dançar em varões, muitos de cabeça virada para baixo, contorcidos com a mesma delicadeza, brevidade e performatividade das pétalas. A folha de sala de Matthew Holman — a artista já me havia antecipado — é, de facto, cirúrgica na leitura que propõe da mostra a partir da tradição pictórica da “natureza morta” (pensá-la a partir da categoria como traduzida em português, traria, sem dúvida, outras dimensões à interpretação): as suas telas capturam instantes fugidios “dessas coisas que respiram, que suam, que são chamadas de um espaço vazio”, “corpos suspensos em situações precárias” que se dobram e desdobram para “fazer algo extremamente difícil como se fosse a coisa mais fácil do mundo”. Deixo a galeria com desejo de ver mais.
Arrisco-me um pouco no dress code para os eventos à noite — “cocktail attire with a speculative touch” —, culminar oficial do fim de semana de abertura da VO, no Hotel Bayerischer Hof (onde acontece, ao longo desses três primeiros dias, um vasto programa de conversas, performances e workshops que desafiam os discursos em torno da arte e da política, intitulado Too Soon To Say – The Unconference). Danço com todas as pessoas que conheci no ano passado e este ano, e percebo, feliz, que estou a construir amizades. Outro novo velho aprendizado — talvez óbvio, mas que merece sempre a lembrança: a arte, mais do que tudo, vale para se conectar com pessoas.
11 de maio de 2025, domingo
Dormi pouco, é claro. Enfim, é dia de voltar da volta. Os pés já estão doloridos, mas estou decidida a fazer o meu domingo a pé: é o dia mais límpido e bonito desde que cheguei, ensolarado e quente, e a minha última chance de assistir à vida na cidade. O voo será apenas pelas oito horas da noite, então pude acumular três visitas para hoje: ao Museum Brandhorst, à Haus der Kunst e a galeria max goelitz. (Eu já sabia, por recomendações de colegas, que iria adorar as exposições destes três espaços.)
No primeiro, Five Friends. John Cage, Merce Cunningham, Jasper Johns, Robert Rauschenberg, Cy Twombly, patente desde 10 de abril, torna difícil a enunciação de qualquer comentário. Difícil, justamente, pela sua qualidade tão clara e consensualmente manifesta, tanto no que diz respeito às obras magistrais destes nomes — tão inventivas e decisivas para a história das artes a partir do pós-guerra —, como na curadoria das peças, materiais complementares, temas e discursos. Se, ali, começamos pelo silêncio, pelo branco, pela interrupção do movimento ou o nada — experiências tão fundamentais para o grupo de artistas norte-americanos, em cada um dos seus meios de predileção —, Shu Lea Cheang, com Kiss Kiss Kill Kill, na Haus der Kunst, convida-nos ao excesso. Despejam-se centenas de caixas de comida, teclas de computador, palavras. Cogumelos reaparecem, presenças constantes e inspiradoras para muitos dos trabalhos que vi (igualmente estimados, por exemplo, por Cage, que os colecionava, ou Laura Ni Fhlaibhin, que pinta, por vezes, com pó de micélio), bem como as máquinas de um tempo de abandono — recobrando a realidade tangível de um imaginário de progresso que se quer completamente algorítmico e bidimensional. Serão (ou já são) muitos os fantasmas materiais com os quais teremos (temos) de lidar. Ao lado de Cheang, é o que Philippe Parreno também realiza em Voices. Na altura da Various Others 2024, as mesmas salas eram ocupadas com uma retrospetiva de Rebecca Horn — agora, continuam habitadas por objetos com vida, movimento e padrões próprios. Como no primeiro dia em Munique, oiço vozes numa língua que não reconheço, mas, dessa vez, com origem inacessível, invisível, talvez extraterrestre. As instalações de Parreno são de um assombro hipnotizante — quase sinto medo.
Na max goelitz, termino o meu fim de semana de Various Others com chave de ouro e um bocado de humor. everything, entangled, all at once, de Julius von Bismarck, Anne Duk Hee Jordan e Haroon Mirza — uma colaboração com alexander levy —, é mais uma das mostras sedutoras da galeria de Munique e Berlim. Destaque, sobretudo, para as imagens de Bismarck — cujos processos de “achatamento” de plantas e animais, prensados em meio a aparas de madeira ou plásticos a vácuo, produzem composições visuais tão poéticas quanto alarmantes e sufocantes —, a escultura de Mirza à chegada — de um equilíbrio que parece frágil, embora potente ao ponto de mover e fazer energia — e o filme bio-erótico de Jordan — que nos confronta com a abundância das formas de prazer numa “natureza” “naturalmente” queer e, a partir de um dispositivo tão simples, consegue fixar-se como uma destas obras de que nunca esqueceremos.
É quase 22h30 em Lisboa e estamos prestes a aterrar. Amanhã, sentirei falta do pequeno almoço abundante, sim; mas, acima de tudo, do pensar caminhando, com a certeza do espanto. Esperarei, com ainda mais vontade, regressar na próxima primavera.