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Vista para o Parque, de Rui Sanches
DATA
11 Dez 2020
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AUTOR
Daniel Madeira
Há uma certa sensação arqueológica quando entramos no espaço Círculo Sereia, do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, para visitar a exposição Vista para o Parque, do artista Rui Sanches. As esculturas, quase-rostos, que se projetam em matéria no espaço, neste caso madeira, apresentam-se numa quase-forma. Nos desenhos, verificamos uma possível presença da arte cinética – trabalhos num movimento não meramente físico, mas também mental. Há sobreposições que nos transportam para um cinetismo cerebral cujo habitáculo – a tela – nos permite o acesso ao que foi e ao que se tornou. A transmutação de paisagens mentais, a insaciabilidade da procura artística pela imagem perfeita, intangível, mas cuja procura é extremamente necessária e naturalmente veiculada pelo corpo. Neste processo há claramente a necessidade do próprio espaço expositivo ser convocado como meio de procura, ou mesmo como possibilidade do objetivo – vemos obras na parede que acrescentam linhas pretas ao fundo branco – uma possibilidade de esquisso do pensamento artístico simplificado.

Há uma certa sensação arqueológica quando entramos no espaço Círculo Sereia, do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, para visitar a exposição Vista para o Parque, do artista Rui Sanches. As esculturas, quase-rostos, que se projetam em matéria no espaço, neste caso madeira, apresentam-se numa quase-forma. Nos desenhos, verificamos uma possível presença da arte cinética – trabalhos num movimento não meramente físico, mas também mental. Há sobreposições que nos transportam para um cinetismo cerebral cujo habitáculo – a tela – nos permite o acesso ao que foi e ao que se tornou. A transmutação de paisagens mentais, a insaciabilidade da procura artística pela imagem perfeita, intangível, mas cuja procura é extremamente necessária e naturalmente veiculada pelo corpo. Neste processo há claramente a necessidade do próprio espaço expositivo ser convocado como meio de procura, ou mesmo como possibilidade do objetivo – vemos obras na parede que acrescentam linhas pretas ao fundo branco – uma possibilidade de esquisso do pensamento artístico simplificado.

O corpo humano e o corpo arquitetónico são também colocados aqui em comparação – de um lado o orgânico, do outro lado o racional, num possível terceiro momento talvez entendamos o porquê das sobreposições.

Sobre a relação com o exterior, do Jardim da Sereia, nada melhor que transcrever uma pequena parte do texto desta exposição, escrito por Delfim Sardo: “(…) a situação física e arquitetónica do CAPC serve magistralmente esse propósito: é um mecanismo arquitetónico de produção de imagens, produz perspetivas frontais que se abrem para o Jardim da Sereia, mas permitem a circulação, fazem também ver o revés e transformam o Jardim num cenário. A paisagem adquire aqui o pitoresco que fundamenta a escultura (…)”. Pudesse ser este um texto escrito em tempo real e eu voltaria agora mesmo ao início da citação extraída da folha de sala e sublinharia “situação física e arquitetónica”. Se tivéssemos de resumir a exposição seria assim: o físico da figura humana, o corpo do visitante que tem acesso a vários ângulos conforme o movimento dele mesmo pelo espaço expositivo e a arquitetura, exemplificada nos desenhos, acolhedora da própria obra do artista e do corpo que a visita, e quase como abrigo da procura pela tal imagem.

O pensamento como vento, o espaço como janela aberta.

Inaugurada a 19 de setembro, Vista para o Parque pode ser visitada até dia 30 de dezembro.

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