article
XXII Bienal Internacional de Arte de Cerveira: We Must Take Action!
DATA
26 Set 2022
PARTILHAR
AUTOR
Mafalda Teixeira
Data de 1978 a história da Bienal Internacional de Arte de Cerveira, como consequência dos Encontros Internacionais de Arte em Portugal, organizados pelo Grupo Alvarez, Egídio Álvaro e a Revista Artes Plásticas. Ao I Encontro no ano de 1974 na Casa da Carruagem, Valadares, seguem-se nos anos seguintes o de Viana do Castelo (1975), Póvoa do Varzim (1976), Caldas da Rainha (1977) e o último e V Encontro em Vila Nova de Cerveira, que estará na génese da Bienal de Arte de Cerveira, realizada de dois em dois anos, num formato mais abrangente e com convidados estrangeiros.

Data de 1978 a história da Bienal Internacional de Arte de Cerveira, como consequência dos Encontros Internacionais de Arte em Portugal, organizados pelo Grupo Alvarez, Egídio Álvaro e a Revista Artes Plásticas. Ao I Encontro no ano de 1974 na Casa da Carruagem, Valadares, seguem-se nos anos seguintes o de Viana do Castelo (1975), Póvoa do Varzim (1976), Caldas da Rainha (1977) e o último e V Encontro em Vila Nova de Cerveira, que estará na génese da Bienal de Arte de Cerveira, realizada de dois em dois anos, num formato mais abrangente e com convidados estrangeiros. Promovendo a ligação entre a prática artística e o espaço urbano, o contacto com habitantes locais e um público diversificado, a mais antiga bienal da Península Ibérica afirma-se e inscreve-se no mapa da arte contemporânea nacional, mediante um modelo que conta com um concurso internacional, exposições de homenagem a artistas consagrados, presença de artistas convidados, projetos curatoriais diversificados, residências artísticas e programações paralelas.

Quarente e quatro anos após a primeira edição, organizada por Egídio Álvaro (1937-2020) e Jaime Isidoro (1924-2009), a XXII edição da Bienal Internacional de Arte de Cerveira introduz na sua programação e desenho curatorial novidades que reforçam, não obstante a sua importância histórica e antiguidade, o desejo de ser futuro. Sob o tema WE MUST TAKE ACTION! / DEVEMOS AGIR! é lançado o convite para a ação, estimulando os artistas a pensar o mundo e a refletirem sobre emergências globais, como o ambiente e a sustentabilidade, desafio lançado não só à comunidade artística, bem como ao público em geral. Com direção artística de Helena Mendes Pereira (1986) – a primeira mulher a assumir o cargo após as direções de Jaime Isidoro; José Rodrigues; Henrique Silva; Augusto Canedo e Cabral Pinto – e mantendo o formato adotado na primeira edição, a BIAC assume-se como espaço para intervenções artísticas variadas, para o debate e fomento da educação e mediação cultural, propondo-se, nas palavras da atual diretora, a agir e colocar a pergunta: pode a arte mudar o mundo?

Tendo como propósito a Bienal Internacional de Arte de Cerveira premiar, anunciar vanguardas e apresentar artistas emergentes, um dos destaques da presente edição vai para a decisão curatorial de expor separadamente as obras do Concurso Internacional e as dos Artistas Convidados, mediante abordagens curatorias distintas que valorizam as obras e os seus autores. Neste sentido as obras dos Artistas Convidados apresentam-se distribuídas pelo Fórum Cultural de Cerveira; na recém-inaugurada Galeria Bienal de Cerveira; Biblioteca Municipal de Vila Verde; Museu Municipal de Caminha e – a partir de Setembro – Museu de Pontevedra; já o Fórum Cultural de Cerveira acolhe a totalidade de obras do Concurso Internacional, que este ano contou com um número record de 1164 obras a concurso de artistas oriundos de 50 países, sendo apresentadas 96 obras de 77 artistas de 18 nacionalidades.

Destaque para a exposição de homenagem a Helena Almeida (1934-2018) de título EGO_ERGONOMIA, com curadoria de Helena Mendes Pereira, em exibição no Fórum Cultural de Cerveira, e em que dez obras da artista – que nos revelam um manifesto interesse pelo corpo (que regista, ocupa e define o espaço) e o seu encontro performativo com o mundo – dialogam com dez obras de artistas convidados. A exposição ocorre quarenta anos após a realização de Saída Negra (1982), obra pela qual Helena Almeida foi premiada em 1984, no âmbito da IV Bienal Internacional de Arte de Cerveira, passando a integrar a coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira. Ainda no Fórum Cultural de Cerveira destaque para os Projetos Curatoriais, Da Afirmação à Conta-corrente, proposta por Jaime Silva, e Viagem pelo Esquecimento, projeto artístico de Ana Mesquita, João Gil e Mia Couto, através do qual o público é convidado a viajar pelas mais delicadas facetas da História, num apelo à memória a partir da videoarte, música e poesia.

Pela primeira vez a Bienal Internacional de Arte de Cerveira apresenta o Japão como país convidado, com a exposição Plenitude e Vazio, patente na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Cerveira de 16 de julho a 1 de outubro, com curadoria de Filipe Rodrigues.

Como habitualmente a Bienal de Arte de Cerveira estende-se ao Convento de San Payo, onde podemos visitar a exposição dedicada ao Padre Himalaya, talvez o primeiro ambientalista português, intitulada Himalaya: lugares das estórias de um inventor, e a Alfândega da Fé, mais concretamente à Casa da Cultura Mestre José Rodrigues, com a exposição De Casa para um Mundo, com curadoria de Maria de Fátima Lambert (1960), resultante da criatividade em período de isolamento.

Sendo a descentralização cultural um dos objetivos da BIAC desde a sua génese, importa assinalarmos a estratégia de promoção da arte e artistas contemporâneos desenvolvida pela Bienal, assim como o seu contributo no processo de democratização do aceso à cultura no público e no território, conforme nos revela o Programa de Residências e Intervenções Artísticas, com curadoria de Mafalda Santos (1980), que abrangendo as quinze freguesias do concelho configura-se como mais uma das novidades da presente edição, em que mais de trinta projetos envolvendo 50 artistas criarão momentos que nos permitam pensar o mundo e agir. A esta dinâmica acrescem-se os ateliers, visitas orientadas e a reativação da Casa do Artista Jaime Isidoro.

Com uma vertente claramente ativista, a XXII edição da Bienal de Arte de Cerveira propõem-se a eliminar muros e fronteiras e a estabelecer pontes e diálogos, partilhando formas de fazer, pensar e agir num evento que se expande do Alto Minho à Galiza, afirmando-se uma vez mais enquanto acontecimento cultural de referência a nível nacional e internacional que podemos visitar até 31 de dezembro.

BIOGRAFIA
Mafalda Teixeira mestre em História de Arte, Património e Cultura Visual pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, estagiou e trabalhou no departamento de Exposições Temporárias do Museu d'Art Contemporani de Barcelona. Durante o mestrado realiza um estágio curricular na área de produção da Galeria Municipal do Porto. Atualmente dedica-se à investigação no âmbito da História da Arte Moderna e Contemporânea, e à publicação de artigos científicos.
PUBLICIDADE
Anterior
article
Unconscious Fruit na Galeria Foco
23 Set 2022
Unconscious Fruit na Galeria Foco
Por Maria Eduarda Wendhausen
Próximo
article
Parallax de Susana Rocha na Sociedade Nacional de Belas Artes
27 Set 2022
Parallax de Susana Rocha na Sociedade Nacional de Belas Artes
Por Miguel Pinto