Tal como Eduardo Nogueira Pinto, presidente executivo da Fundação PLMJ refere:
“É com grande satisfação que a Fundação PLMJ abre, pela primeira vez, o seu espaço expositivo em Lisboa a um projeto externo à sua programação habitual. Fiel à missão de apoiar artistas e iniciativas de língua portuguesa, acolhemos com entusiasmo os alunos do curso de fotografia do Atelier de Lisboa, contribuindo para a comunidade através do incentivo à criação artística. Foi com especial alegria que apoiámos a montagem e a permanência da exposição Órbitas, que desde a abertura tem recebido dezenas de visitantes”. Com efeito, Órbitas congrega num espaço de estética apurada um impacto sentido de imediato, em fotografias expostas imaculadamente, com uma produção e curadoria de grande rigor técnico, que potencia a imediata qualidade do trabalho visual a ser apresentado. Composta por obras de sete artistas, num culminar de investigações e práticas que duraram um ano no Atelier de Lisboa; Órbitas convoca uma série de questionamentos que se articulam, precisamente, numa constelação de preocupações, interesses, obsessões, que orbitam em torno de um centro comum, situado numa visível procura por um depuramento do olhar artístico. Aqui, observa-se a ideia barthiana do punctum fotográfico sem pretensões.
Alexandra Cunha-Vaz com a série Dissociações oferece-nos um vislumbre diarístico, a perda de um vício, a transformação interior. Fazendo uso de um dispositivo inesperado, um cândido atlas visual emerge num testemunho de superação. Segue-se Rosário Oliveira que enquadra a floresta através de cuidados contrapicados, seguidos de um atento políptico da rebentação do mar numa praia. Nesta série intitulada Refugium natura, o olhar demora-se nos detalhes e ritmos que nos escapam, desde as copas das árvores aos seixos rolados pela areia. Gonçalo C. Silva com Ciclone inspira-se também na força da natureza, embora parta para uma representação onírica de um mito local. Através de uma composição alegórica, recria-se a narrativa em torno de uma mulher que é lançada de uma aldeia para outra pelo ímpeto dos ventos.
Trabalham-se também questões de periferia, onde Teresa Júdice da Costa em 720 explora as rotinas e os trajetos num autocarro pela cidade. Ideias de intimidade e de um universo feminino destacam-se, numa série de fotografias orquestradas numa mise en abyme original, onde jogos de espelhos e duplas exposições formalizam o quotidiano: a espera, a contemplação, o cansaço, e a transitoriedade por lugares tantas vezes invisíveis de tão familiares. Junta-se Miguel Fernandes Duarte com Periférico, destacando os não-lugares subjacentes às imediações do aeroporto de Lisboa. Composições inesperadas e rimas discretas, resultam numa série marcada por um olhar invulgar, hipnótico, onde a escala do aeroporto se torna pequena quando justaposta ao interesse que o seu redor despoleta.
Por fim, João Xenico e Austėja Ščiavinskaitė, oferecem um experimentalismo fotográfico de enorme precisão. Xenico com Jardim das Delícias cria uma vídeo instalação tríptica, onde reimagina o famoso quadro de Bosch. Tudo parte de uma fotografia de um jardim, onde através de enormes ampliações – que depois foram filmadas – se consegue um efeito monstruoso, distópico, onde os referentes se dissolvem e criaturas começam a surgir. Ščiavinskaitė, por sua vez, consegue o feito surpreendente de encontrar liquidez numa oficina de mármores. As composições plásticas, fazem com que a dureza rochosa seja quebrada por formas aquosas, cristalizações e viscosidades inesperadas.
Patente na Fundação PLMJ até 25 de outubro, é uma oportunidade de conhecer alguma da fotografia emergente e contemporânea a ser desenvolvida em Portugal. A entrada é livre, mediante marcação prévia por email em fundacaoplmj@plmj.pt