É por isso, mediante esta constatação, que a exposição Pó de Estrelas parece cercar de imediato o olhar do espectador com uma contemplação primordial, genealógica e embrionária, na qual predomina uma investigação visual em torno da superfície das coisas, ou, dito de outra forma, em torno da pele do mundo. Entre fotografias de fetos arbóreos, pormenores de rochas e catos de espinhos com fibras tão finas que parecem lã; entre secretos riachos de amarelo ocre, retratos fugidios de peles cintilantes, encontramo-nos sempre diante de texturas e camadas que retêm uma ideia de rasto, de marca, pistas de criação cosmológica. Parece que todas as coisas brilham ao mesmo tempo.
Este efeito é conseguido através de enquadramentos inusitados, onde a composição se quebra ou corta inesperadamente. Ângulos apertados apresentam as texturas do mundo, através do ponto de vista autoral de Osório de Castro: as verdes simetrias vegetativas da folhagem, as pequenas gotículas na superfície do mar, em jeito de um manto dourado. Migalhas granulares situam-se nas rochas, e brilhos reluzentes, poeiras cósmicas, assentam nos rostos fotografados. Usa-se o desfoque em alguns retratos com cuidado, aludindo precisamente a esta camada plástica da superfície fotográfica, ao grão sentido pelo analógico, aos vestígios da luz, deixando antever pequenos sinais e rimas nesta procura pelo pó sideral.
Observam-se tanto plantas e corpos como plástico e estufas. Talvez numa alusão às dicotomias de um mundo já desnorteado perante tal acelerada mudança, onde o vegetal, mineral e humano, são escolhidos na sua capacidade de deslumbrar e capturar a contemplação, imediatamente contrariados pela frieza dos compostos sintéticos, das fibras inorgânicas que rodeiam os viveiros de criação de plantas, as mesmas fibras que compõem as roupas dos corpos dentro das estufas. Somos feitos de estrelas/Somos feitos de pó, diz-nos Catarina Osório de Castro, mas serão também as nossas criações tecnológicas feitas dessas mesmas matérias? Será que também elas se tornarão um dia pó? A efemeridade existencial não resiste ao ímpeto das construções e tecnocracias humanas, e talvez seja por isso que na última sala da galeria, diante das fotografias das estufas, os corpos não têm rosto; são fantasmáticos apelos por um mundo diferente, feito de um decrescimento louvável, onde o planeta possa prosperar.
Numa das fotografias vemos uma mulher sentada à noite, parece estar junto a uma fogueira, e se antes observámos a superfície, as microscópicas pistas da criação da vida, agora o convite estende-se à contemplação interior, numa apologia da escuridão iniciática, meditativa, que abre o halo para novos vislumbres de um céu estrelado.
A exposição encontra-se patente na Dialogue Gallery até 22 de novembro e a entrada é livre.