Organizada pela Carpe Diem Arte e Pesquisa, em coprodução com a Associação P28, e contando com o mecenato da Fundação Millennium bcp e demais parceiros – entre os quais museus, galerias e centros culturais –, esta é a décima edição do prémio, que tem vindo a revelar-se decisivo para o arranque da carreira artística dos vencedores. A minuciosa seleção das obras a concurso ficou a cargo de um painel de jurados composto por Giulia Lamoni, José Carlos Santana Pinto e Nuno Venâncio, e a curadoria da exposição foi assegurada por Katherine Sirois. No total, doze artistas viram o seu trabalho exposto no Pavilhão 31, estando em destaque um total de quarenta e cinco obras expostas. Uma exposição eclética e multidisciplinar, onde se observaram diferentes mediums, desde a arte visual até à escultura e pintura, contando também com instalação.
Próprias das dinâmicas inerentes a uma exposição coletiva, as contrariedades são assumidas e a heterogeneidade das obras expostas revela-se motivo de interesse para o público, pois num curto espaço se agregam olhares e perspetivas diversas e originais. Mas, como de esperar, é também nesta diferença que acabam por residir tensões entre propostas artísticas difíceis de articular em conjunto, dada a distância técnica e conceptual que as separa. Em todo o caso, a escolha de premiados não será fácil:
Ao fundo, um enorme andaime à escala real convida-nos a entrar na sala, feito de cera, este objeto escultórico de Samuel Ferreira – Andaime (2019) – desafia-nos a reconfigurar o mundano e banal enquanto matéria artística. A meio caminho chama a atenção na parede direita Tempestade no pousio (2023), de Cheila Garcia, um desenho feito a partir de uma máquina de escrever e grafite, onde uma paisagem inusitada e onírica se constrói. Sem interrupção, o olhar parte para a parede na diagonal esquerda, onde os azuis vibrantes da obra O que é que tu queres? (2024), de Diogo Nogueira, exigem uma pausa entre os corpos seminus que brincam e cospem água. Voltando as costas, encontra-se, no lado oposto da sala, um azul, mais escuro e sério, a drapejar num comprido e cuidado tapete sintético pintado com tinta acrílica. Trata-se de Flying Heart (2024), de Teresa Supico. Junto a este, duas fotografias de Patrícia Assis, de impecável e curiosa composição, encontram-se lado a lado: Pas de Deux (2024) e Estrada (2024). A contemplação cede espaço a uma euforia interior, quando pela direita se acometem os conjuntos de técnicas mistas sobre papel hanji e de arroz, tecido, metal e plástico, de Madalena Fezas Vital (feitos entre 2023 e 2025), em coloridas abstrações, auxiliadas pela plasticidade do acrílico e do gesso.
Volta-se à contemplação, através da grafite sobre papel em Persianas do Campo (2025) de Tiago Bento, e à pintura Cromeleque/Sete projeções de uma só pedra (2025) de André Filipe Rodrigues, trabalhos que convocam uma meditação sobre a espacialidade, sombras e superfícies. Nessa mesma linha, repousa o olhar nas fotografias de Beatriz Banha, por exemplo, Pedra-Vulcão (2022) ou Garagem, árvore, carro (2022), que parecem tomar inspiração da paisagem cabo-verdiana para ilustrar uma tónica de espera, solidão e interrupção.
Falar de interrupção implica reconhecer o subtil som mecânico que se ouve vindo do centro do pavilhão, trata-se de um aspirador robot coberto de relva sintética, que deambula numa vedação quadrada de madeira, naquilo que é uma divertida e provocadora instalação de Maria Máximo – Modern Version of the Nun (2023). Ainda em linha com este espírito jocoso, Regina Silva espalha pelo pavilhão diferentes peças, feitas de materiais tão díspares como arame, barro e tinta de água, até esmalte, sapatos e cera. Destaca-se Não vale a pena chorar sobre leite derramado (2024), onde se cria uma ilusão de uma torneira a derramar leite pelo chão, convidando o espectador a entrar num humor inteligente. Sem tempo para repor a postura, Monika Pietryga aprofunda a diversão com Chewba Lisa (2024), uma pintura a óleo que reconfigura a icónica Mona Lisa de Da Vinci, com um rosto do igualmente famoso Chewbacca da saga Star Wars.
Patente no Pavilhão 31 do Hospital Júlio de Matos até 15 de novembro, é uma excelente oportunidade para visitar um corpo de trabalho artístico diversificado, fértil, contemplativo, imaginativo e divertido de alguns jovens em destaque no panorama atual. A entrada é livre, mediante o horário de funcionamento de segunda a sexta, entre as 10h e as 16h.